Olá pessoal, tudo bem?
É com grande felicidade que trazemos a participação de mais um convidado ao nosso blog.
Agora é o, tomem fôlego: professor, crítico literário, cronista e contista, Vicentonio Regis do Nascimento Silva, ou, simplesmente, Vicentonio.
O prof. Vicentonio leciona na UNIESP de Presidente Epitácio, mas gosta, e muito, de literatura, tanto que, como vocês podem ver acima, escreve também crônicas.
E gentilmente o prof. nos cedeu uma de suas mais recentes crônicas para colocarmos aqui no blog, voltadas também para aqueles já em fase de pós-graduação.
Curtam a crônica do prof. Vicentonio:
"Aula de mestrado
A angústia da concorrência compensou quando verificou seu nome entre os mais bem classificados. Os olhos vibravam, as mãos suavam, falava sem parar. Compartilhou o sucesso com amigos, informou à sogra que ganharia o triplo do salário, disse para a mãe escolher dois vestidos e dois pares de sapatos na loja mais cara.
- Minha mãe merece, dizia para si mesma enquanto folheava o jornal e bebericava alguns goles de café.
Cursara economia, especializara-se em exportação bovina e depois de esforços incontáveis, noites incompletas, reclamações do marido, cobranças das amigas abandonadas, finalmente entraria no mestrado.
Pensava no glamour, nas dezenas de entrevistas que jornais, rádios e televisão solicitariam, dos problemas complexos que seriam apresentados a fim de solucionarem as pendências da sociedade. Que viessem todos os problemas, inclusive os de lógica. Mestranda em filosofia, responderia a qualquer questão.
No início de março despediu-se do marido, deixou os filhos na escola, advertiu a mãe de que não almoçaria com ela, desmarcou a massagista, confirmou a manicure às 19h30, conferiu cadernos, dois livros, garrafa de água sem gás e dois chocolates Batom.
Sociólogos, matemáticos, literatos, advogados, engenheiros, jornalistas, designers, administradores, psicólogos, historiadores, economistas, dois agrônomos, três teólogos e dois alunos especiais compunham a classe heterogênea.
Os dezoito primeiros meses transcorreram como a queda de algodão doce na ponta da língua. Mais um semestre, as aulas acabariam. Daí em diante, dedicar-se à revisão, à reflexão e aos consertos metodológicos, teóricos, formais e estilísticos da dissertação que, como gostava de frisar o professor da disciplina de regras da ABNT, deveria ir além das trezentas páginas.
Uma dupla de docentes ministraria a disciplina dividida em três tardes com duração semanal de quinze horas. Ignorou as piadas dos professores que se referiam às colegas como “terror” e “monstros” do departamento. “Monstros” porque talvez cobrassem extenuantes exercícios de análise, horas excessivas de leitura, trabalhos longos e complexos, participação ativa e intensa nos debates.
Dormiu mal, imaginando como faria para novamente conciliar as atividades de aluna, mãe, esposa, filha, amiga, profissional. Realocou alguns horários e pensou em abrir mão ou pedir licença do trabalho durante aqueles seis meses. “Terror” e “monstros”: duas palavras que a acompanharam durante a véspera da aula e se esticaram durante o dia até o momento de entrar na sala, cumprimentar os colegas e sentar-se desconsolada na sua carteira.
Pontualmente às 14h05, as duas senhoras trajando vestidos longos – como estivessem se dirigindo a uma grande festa – entraram na sala, depositaram o material na mesa e o giz no suporte do quadro negro.
O método didático das duas consistia basicamente na dialética. Uma perguntava, a outra respondia. Uma falava, a outra complementava. As duas se esqueciam e, com muita dificuldade e leveza, tentavam se lembrar da ordem do discurso.
- Montesquieu foi quem primeiro tratou da relação entre filosofia e educação. Não é, Ivonete?
- Claro, Claro. Montesquieu. Isso mesmo.
- Então para facilitar, vamos escrever no quadro negro, não é Ivonete?
- Claro. Vou copiar. Então me acompanhem. Montes... Montes... Quem é mesmo?
- Montesquieu, Ivonete.
- Isso. Montesquieu. Como mesmo se escreve Montesquieu.
- Sabe que também não lembro?
Cento e sessenta horas de aula. Entendia o porquê de “terror” e de “monstros” do departamento de filosofia."
*Publicado originalmente no Jornal de Assis (Assis – SP) de 27 de agosto de 2009.
** para quem quiser saber mais sobre o trabalho do prof. Vicentonio, clique no link abaixo (blog do prof.) ou clique ao lado do nosso blog em "Estes, eu recomendo!" **
http://www.vicentonio.blogspot.com/
É isso aí pessoal, continuem participando, "estamos abertos"!
Um grande abraço a todos e, obrigado prof. Vicentonio!
3 comentários:
Olá. Sou aluno do prof. Vicentônio em Londrina, no estado do Paraná, e gostaria de parabenizar pela excelente crônica. Aliás, todo trabalho de crítica e criação literária, sociologia e história, tradução e revisão do prof. Vic são fantásticos e nós, seus alunos, apenas ganhamos com isso.
Ricardo Almeida
Algumas pessoas são brilhantes e outras brilhosas. POr essa frase dialógica, só posso afirmar, com toda sinceridade,que temos um dos melhores cronistas e contistas do país, que é o Vicentônio.
Prof. Leo Braga, de Marília (SP)
Algumas pessoas são brilhantes e outras brilhosas. POr essa frase dialógica, só posso afirmar, com toda sinceridade,que temos um dos melhores cronistas e contistas do país, que é o Vicentônio.
Prof. Leo Braga, de Marília (SP)
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